segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cinco sentidos


Uma neblina densa cobria o meu caminho. Era impossível enxergar alguma coisa, era um impedimento da natureza para que eu não chegasse até você. E eu tinha a esperança de poder ver o seu rosto com aquela feição bucólica de costume. Essa expressão que me deixava perdido por causa dos seus olhos interpretáveis. A falta de nitidez se opunha aos finais de tarde que já vivemos, apreciando o por do sol enquanto éramos banhados por todo aquele brilho alaranjado. Os dias não são os mesmos. E eu tenho que me contentar com esse branco infinito que me proíbe de estar ao seu lado. 

Sinto falta do aroma do seu perfume barato. Vou a lugares que frequentávamos e sinto o cheiro da colônia que você usava, mesmo com tua ausência. Sinto falta da mistura de olências que era causada pelos nossos abraços. Sinto falta do cheiro das matas verdes dos campos que já desbravamos juntos. A sala de estar ainda é tomada pelo aroma de lavanda que você tanto adorava. Não tem jeito, o olfato é meu ponto fraco. Seu olor me conquistou e você já deve ter trocado de fragrância. 

Meu paladar aprendeu a gostar de todos os seus pratos preferidos. Nos nossos últimos momentos, suas palavras foram azedas. A doçura entre nós não existia mais. Lágrimas salgadas caíram na hora que você disse adeus. Agora que estou só, sinto o gosto amargo do café que tomo em todas as noites de insônia. Só não é tão amargo quanto um sentimento desgastado. Só não é tão amargo quanto você. 

Sou possuído por esse desespero provocado pelas lembranças. Meus lábios não serão mais tocados pelos seus. Guardo recordações de quando minha mão tocava o seu rosto para secar alguma lágrima ou de quando sentia teu cabelo macio entre meus dedos, enquanto nos beijávamos. Nosso contato é o que mais me dá saudade. E também do calor dos nossos abraços. 

Tive que ouvir todas as suas desculpas. Todos os seus insultos. E tudo o que eu queria ouvir, você não disse. Escuto sua canção favorita e a cada nota da flauta doce, lembro dos nossos momentos. Se você estivesse aqui, seus ouvidos escutariam que você é o que aconteceu de mais importante na minha vida e que agora estou encontrando algum meio de levá-la adiante sem você. Não estamos mais sintonizados. Perdi a frequência da sua rádio e a sua voz não ouvirei.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Teu nome

Chegou em casa após um dia cansativo. Resolveu tomar um banho. Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo, se perdeu em seus devaneios, subitamente. Não via motivos para ter lembrado daquela pessoa depois de tanto tempo. Talvez porque tivesse lido todas aquelas poesias escritas na época. A ingenuidade era evidente a cada palavra escolhida. Frases curtas escritas a alguém que lhe significou muito e que possivelmente não foi recíproco. Não era amor. Não era aventura. Era algo indescritível.

Depois do banho, foi até seu guarda-roupas e releu aquele caderno empoeirado e deixado de lado, como suas memórias. Todos os textos sem sentido que perderam a essência nas noites escuras dedicadas à um nome. Um nome que não lhe tocava mais. Um nome que não provocava mais aquela fadiga e pingos de suor que frequentemente deslizavam pelo seu rosto. Um nome que não aparecerá mais em seus rascunhos. Um nome que o vento levou para longe, para um lugar melhor do que aqui. Lá, encontrará outro nome. Um nome que ensine a amar, que faça sofrer. Outro nome que se repita a cada frase dita. Um nome que nunca foi o meu.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Sentença

A manhã parecia mais gélida por causa da tua ausência. Levantei-me da cama, sem sequer olhar para o lado dela que era seu. Já é a segunda estação que ela não é desarrumada.

A cozinha parecia mais distante enquanto meus pensamentos só lembravam você. O vapor do café lembrava o calor dos seus suspiros que já aqueceram o meu rosto. Tudo está do jeito que você deixou, esperando a sua volta.

O tempo roubou tudo o que já esteve comigo, inclusive você. É mais um crime para fazer parte da minha história. E por falar em crimes, mal conto as horas para matar essa solidão que carrego em meu peito. Somos parceiros incríveis nesse crime. Quero ser condenado e aprisionado em você.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Acaso

O céu vermelho me impedia de ver alguma estrela. Uma garoa havia caído sobre aquela cidade e a brisa me causava uma sensação relaxante. Resolvi escutar uma música para combinar com aquele momento. Os arranjos, os acordes do piano e a delicadeza do violino me lembravam ela – minha amiga. Uma canção como ela, que transmitia melancolia e despertava sentimentos com os seus versos.

Uma mistura de rebeldia e pureza era evidente em seu olhar. Não usava mais as mesmas roupas, mas sua personalidade se fortalecia com os passar dos anos. Os anos se passaram e ela apareceu como minhas outras amizades – por acaso, com poucas palavras e muitos sorrisos.

Não é preciso muito tempo para reconhecer uma amizade. Eu gosto de ser o motivo das suas risadas. Eu gosto que você seja o motivo das minhas. Uma pessoa que te incentiva, que te inspira e que insiste na amizade é mais que digna de lealdade. Qual minha intenção nesses parágrafos? Agradecer-te. Pelas histórias que já contamos, pelo presente que estamos vivendo e pelo nosso futuro que será cheio de surpresas. 
“Hold out your hand cause friends will be friends right till the end.” 
(Friends Will Be Friends - Queen).
Feliz aniversário, Lari   

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Uma carta


Escrevi uma carta 
Para contar-lhe o que me falta, 
Revelar os meus segredos 
E enfrentar os meus medos. 

Escrevi uma carta 
E algumas linhas estão apagadas, 
Poucas palavras foram usadas, 
Pois não estou apaixonado, 
Estou só amargurado. 

Escrevi uma carta 
Que na minha gaveta está escondida, 
Escrita por causa da dor da despedida, 
Lembrando-me daquele dia 
Que se resumiu em agonia. 

Escrevi uma carta 
E ela não será enviada, 
Já que não sei teu endereço, 
Nem se você é quem eu mereço.